OFTALMOLOGIA
AMBIENTE DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE
Caso Clínico 8
Um colega pede auxílio por telefone a respeito de um caso: paciente feminina, 49 anos, história de baixa acuidade visual insidiosa em ambos os olhos, além de nictalopia (cegueira noturna), visão para cores anormal e visão borrada. Enviou a imagem de fundo de olho:

(Livro Oftalmologia - Fundamentos para Graduação em Medicina
Dr. Manuel Vilela e Dra. Carina Colossi)
A partir do caso, responda as perguntas
1. Qual o nome do achado?
2. Quais dados da história da paciente seriam importantes perguntar?
3. Qual o provável diagnóstico?
4. Quais são os principais fatores de risco para essa doença?
5. Que o tratamento?
6. Qual o prognóstico?
7. A partir disso, quais cuidados os profissionais da saúde e os pacientes têm de estar cientes?
8. Em quais doenças se usa tal droga?
9. Por que ocorre essa alteração retiniana?
Respostas
1. Lesão macular em “olho de búfalo”, caracterizada por um anel de despigmentação circundado por um anel de pigmentação aumentada. (em outras palavras, uma ilha foveolar de pimento, rodeada por uma zona atrófica despigmentada do Epitélio pigmentar da retina, a qual pode estar circundada por um anel hiperpigmentado).
2. É fundamental saber se existe história de Lúpus Eritematoso Sistêmico, Artrite Reumatoide, uso de medicações tóxicas - como antimaláricos -, além de excluir maculopatia hereditária.
3. Toxicidade da retina por hidroxicloroquina.
4. Uso das medicações antimaláricas - hidroxicloroquina e cloroquina. A hidroxicloroquina é muito mais segura do que a cloroquina. Para ambas, a dose cumulativa é o principal fator de risco. No caso da hidroxicloroquina, o risco é maior com doses cumulativas superiores a 1.000 g (alcançada com uma dose diária de 400mg por 7 anos). Doses inferiores a 6.5 mg/kg são consideradas seguras.
A cloroquina é pouco utilizada atualmente. Dosagens superiores a 300 g são capazes de produzir danos.
Como elas têm excreção hepática e renal, a falência ou doença desses órgãos são fatores de risco que colaboram para os aumentos dos níveis séricos dessas drogas. Outros são idade avançada, herança genética e doença macular preexistente.
5. Na presença de sinais de toxicidade, deve-se interromper a medicação imediatamente. Além disso, é importante realizar uma abordagem multissistêmica com a área que vem acompanhando a doença de base, a qual geralmente é a Reumatologia.
6. Tanto a lesão, como a baixa acuidade visual, não costumam regredir. Muitas vezes, as lesões continuam evoluindo mesmo depois da interrupção do fármaco.
7. É de suma importância orientar os pacientes da importância de rastrear alterações oftalmológicas após a instituição de hidroxicloroquina. Uma avaliação oftalmológica antes da instituição da terapia, aliada à documentação dos parâmetros visuais funcionais e de testes de imagens, é de grande valia para a comparação com as consultas subsequentes e para descartar doença de mácula preexistente, a qual contraindica o início da droga.
8. Malária, Lúpus Eritematoso Sistêmico, Artrite Reumatoide, Esclerodermia, Pneumocistose
9. Alguns autores sugerem que, a afinidade seletiva da cloroquina pela melanina reduz a capacidade que a melanina tem de se combinar com radicais livres que protegem as células visuais; outros, que a droga lesa os fotorreceptores diretamente. As alterações pigmentares da mácula progridem para maculopatia em olho de boi. Em estágios mais avançados, o paciente evolui com pigmentação retiniana generalizada, vasos atenuados e papila pálida.


(Foto retirada do livro Kanski Oftalmologia)
1. Oftalmologia - Fundamentos para Graduação em Medicina; Dr. Manuel Vilela e Dra. Carina Colossi
2. Handbook of Retina OCT; JAY S. DUKER
3. Kanski Oftalmologia
4. Retinal toxicity associated with chronic exposure to hydroxychloroquine and its ocular screening. Review. Journal of Medicine and Life 2014 Sep 15; 7(3): 322–326
5. Harrison Medicina Interna
6. Goodman and Gilman's the pharmacological basis of therapeutics
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