OFTALMOLOGIA
AMBIENTE DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE
Caso Clínico 6
Paciente, 30 anos, feminina, chega à emergência oftalmológica referindo visão borrada, acompanhada de luzes cintilantes no olho direito de início súbito há 1 hora. Relata cefaleia hemicraniana esquerda com caráter pulsátil, acompanhada de dor retro-ocular inespecífica. Está preocupada, pois pensa que é um AVC. Conta que já apresentou outras crises de cefaleia, mas nunca com sintomas visuais.
1. Qual o diagnóstico provável?
2. Quais fatores desencadeantes devem ser questionados durante a anamnese?
3. Qual é o achado característico no exame de fundo de olho desse diagnóstico?
4. Qual a orientação que deve ser passada às pacientes em idade fértil que apresentam esse diagnóstico?
Respostas
1. Enxaqueca com aura
2. Pílulas anticoncepcionais ou outras pílulas hormonais, puberdade, gravidez, menopausa, período pré-menstrual, alimentos contendo tiramina ou fenilalanina (p. ex., queijos maturados, vinhos, chocolate, castanhas de caju), nitratos ou nitritos, glutamato monossódico, álcool, fadiga, estresse emocional ou luzes brilhantes.
3. Nenhum
4. Anticoncepcionais hormonais combinados (estrogênio + progesterona) são contraindicados para pacientes que apresentam enxaqueca COM AURA ou enxaquecas complexas, devido a um maior risco de acidente vascular cerebral isquêmico. A paciente deve ser orientada a procurar o seu ginecologista para avaliar a necessidade de troca do método anticoncepcional caso faça uso da pílula combinada.
Resumo
Sintomas
Dor de cabeça latejante ou contínua, predominantemente unilateral (pode ocorrer ser retro-ocular ou ao longo de toda a fronte), acompanhada, às vezes, por náuseas, vômitos, alterações de humor, fadiga ou fotofobia. Aura com distúrbios visuais, incluindo-se luzes cintilantes, visão borrada ou um defeito de campo visual que dura de 15 a 50 minutos podem preceder a enxaqueca. Uma história familiar é comum. A cinetose ou vômitos cíclicos na infância também são comuns. Desses pacientes, 60 a 70% são meninas. A prevalência de enxaqueca é maior entre 30 e 39 anos de idade e diminui de forma progressiva após os 40 anos. As crises de enxaqueca podem ser mais curtas e menos típicas com a idade avançada. Enxaqueca de início recente é incomum após os 50 anos e estes pacientes devem ser avaliados para causas secundárias, como lesões vasculares, hemorragias intracranianas, infartos, lesões expansivas e arterite de células gigantes.
Classificação:
1. Enxaqueca sem aura (enxaqueca comum; 80%): Dura de 4 a 72 horas. Localização unilateral, caráter pulsátil, dor moderada a intensa e/ou exacerbação por atividade física. Náuseas, vômitos, fotofobia e fonofobia.
2. Enxaqueca com aura típica (enxaqueca clássica; 10%): Sintomas visuais binoculares completamente reversíveis e que podem ser percebidos como monoculares (p. ex., luzes cintilantes, pontos luminosos, linhas, perda de visão) ou sintomas sensoriais unilaterais completamente reversíveis (p. ex., dormência, “alfinetadas e agulhadas”). Os sintomas desenvolvem-se gradualmente ao longo de alguns minutos e duram entre 5 e 60 minutos. Nenhum sintoma motor presente.
Associações ou fatores precipitantes Pílulas anticoncepcionais ou outras pílulas hormonais, puberdade, gravidez, menopausa, alimentos contendo tiramina ou fenilalanina (p. ex., queijos maturados, vinhos, chocolate, castanhas de caju), nitratos ou nitritos, glutamato monossódico, álcool, fadiga, estresse emocional ou luzes brilhantes.
Avaliação
A história pode ajudar o diagnóstico. É importante realizar aferição de pressão arterial, medida da glicemia capilar e exames ocular e neurológico para descartar outras causas. TC ou RM do crânio estão indicadas para enxaquecas atípicas (enxaquecas sempre no mesmo lado da cabeça; enxaquecas com sequência não habitual, como distúrbios visuais que persistem ou que ocorrem após a fase de cefaleia) e para enxaquecas complicadas.
Tratamento
As medidas gerais incluem a eliminação de condições e agentes que possam precipitar um ataque de enxaqueca, como café, chocolate, álcool, queijo, contraceptivos orais, estresse, privação de sono e longos intervalos sem comida. Encaminhar a um neurologista ou internista para tratamento farmacológico.
O tratamento de um ataque agudo pode ser com simples analgésicos e, se apropriado, um antiemético como a metoclopramida. Outros fármacos usados para pacientes refratários aos analgésicos, incluem sumatriptano e tartarato de ergotamina.