OFTALMOLOGIA
AMBIENTE DE ENSINO DE GRADUAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE
CASO CLÍNICO 4
Oftalmologista é chamado para avaliação de paciente internado há 8 dias com queixa de baixa acuidade visual súbita no olho esquerdo. Paciente de 76 anos, masculino, foi submetido a cateterismo cardíaco e angioplastia coronariana, há 7 dias, após apresentar dor torácica intensa. Evolui com perda progressiva da função renal e aparecimento de cianose do 2º e 3º pododactilos direitos, sem indícios locais de necrose. Ao exame de fundo de olho, visualizou a seguinte imagem:

Com base no caso clínico, responda as questões abaixo:
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Nome do sinal e causa?
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Diagnósticos prováveis?
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Qual fator da história do paciente que sugere fortemente o diagnóstico?
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Achados laboratoriais que possam corroborar a suspeita?
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Respostas:
1. Placa de Hollenhorst: são microêmbolos de cristais de colesterol que impactaram na bifurcação de uma arteríola retiniana e são visualizados no exame de fundo de olho. Diante de um quadro clínico inespecífico que tenha possibilidade de ser causado por ateroembolismo, o encontro deste sinal é um grande indício deste diagnóstico. Está associada com amaurose fugaz e oclusão arterial retiniana (Outras imagens no final do resumo).

2. Ateroembolismo que pode estar causando uma oclusão arterial retiniana.
3. Cateterismo cardíaco e angioplastia coronariana recentes.
4. Eosinofilia, eosinofilúria e queda do complemento.
Resumo
Placa de Hollenhorst é um microêmbolo de colesterol que impacta na vascularização arterial da retina e pode causar oclusão de ramo arterial retiniano (ORAR) ou da artéria central da retina. Faz parte do espectro do ateroembolismo. Cursa com perda abrupta de campo visual parcial, indolor e unilateral. A acuidade visual é variável: se a visão central estiver preservada, o paciente pode até não ter sintomas. Como a retina é um tecido muito sensível, sem um constante suprimento de sangue e de oxigênio, ela rapidamente morre (pode se apresentar no exame físico por meio dos exsudatos algodonosos, que sinalizam isquemia). Especialistas de retina realizam a angiografia fluoresceínica para determinar o local exato e a extensão da área de perda de perfusão.
Ateroembolismo: O ateroembolismo é uma condição que se caracteriza pela embolia de cristais de colesterol. Ocorre pela ruptura de uma placa de ateroma, a qual libera, no sistema arterial, milhares de fragmentos do material lipídico contido no seu interior. Está aumentando sua frequência, visto que é uma complicação relacionada a procedimentos endovasculares (2%).
A principal origem é da aorta (aterosclerose erosiva com história de cateterismo recente). Diferentemente do tromboembolismo arterial (TA), as partículas aqui são rígidas e irregulares, deixando espaços entre elas e a parede dos vasos, o que permite a passagem de sangue. Assim, há disfunção isquêmica progressiva e não infarto agudo, como se espera em um caso de TA.
Na maioria dos casos, as manifestações clínicas são sutis e inespecíficas. Aqui, os pulsos periféricos são palpáveis, diferentemente do TA, que o leito arterial acometido fica sem pulsos palpáveis. Apesar de ter o potencial para lesar vários tecidos, o ateroembolismo pode predominar em apenas um órgão, raramente se apresentando com síndrome completa de disfunção de múltiplos órgãos simultaneamente. Dentre as manifestações, podemos citar:
Síndrome de insuficiência renal aguda.
Síndrome do dedo azul: isquemia de pododáctilos sem necrose, os quais na verdade podem ficar vermelhos ou cianóticos, dependendo do grau de estase e hipóxia.

Placa de Hollenhorst: são microêmbolos de cristais de colesterol que impactaram na bifrucação de uma arteríola retiniana e são visualizados no exame de fundo de olho. Diante de um quadro clínico inespecífico que tenha possibilidade de ser causado por ateroembolismo, o encontro deste sinal é um grande indício deste diagnóstico. Está associada com amaurose fugaz e oclusão arterial retiniana.
Livedo reticular: A impactação de microêmbolos na pequena circulação da pele gera a isquemia, que se manifesta pelas áreas de aparência reticulada nas extremidades, com uma descoloração que varia de avermelhada à azulada. Isso ocorre porque existem arteríolas no subcutâneo que são perpendiculares à superfície da pele, fazendo com que nem todos os vasos sejam afetados pelo excesso do colesterol. Assim, alguns se dilatam (máculas cianóticas) na tentativa de suprir com oxigênio os segmentos cutâneos isquêmicos (máculas pálidas).


Dor abdominal: Por pancreatite e isquemia enteromesentérica microvasculares (impactação do microêmbolo).
Mialgias: resultantes da rabdomiólise por microinfartos musculares, podendo piorar a IRA.
Pode cursar com sinais de embolia para vários outros órgãos.
Em outras palavras, o problema principal é a liberação dos microêmbolos na circulação. A pessoa vai apresentar problemas onde os microêmbolos impactarem. Se for nos rins, pode ter perda da função renal. Dependendo de quantos microêmbolos foram e de qual porção do rim acometida, pode levar à perda de função aguda ou à perda de função renal insidiosa. Se os microêmbolos impactaram em um capilar da extremidade de um dedo, pode levar à síndrome do dedo azul. Caso impactem em um vaso da retina, vai ser encontrada a placa de Hollenhorst no exame de fundo de olho.
Pode ser difícil firmar o diagnóstico, o qual muitas vezes é por exclusão. O diagnóstico definitivo depende da realização de biópsia - fendas biconvexas é a marca histopatológica.

Fendas biconvexas (seta preta) aparecem nos tecidos após a dissolução dos cristais de colesterol, que ocorre durante o processo de fixação na preparação da lâmina.
Uma vez instalada, não há nenhuma terapia efetiva disponível para doença ateroembólica. A base do tratamento é a adoção de medidas de suporte. Para esses pacientes, está indicado o uso de estatina com o objetivo de estabilizar a placa e evitar novos episódios embólicos. Recomenda-se também, sempre que possível, suspensão da anticoagulação.



Referências:
1. Kanski Ophathalmology
2. Harrison
3. Ocular Pathology. AZARI. A; ALBERT. D
4. Retina. RYAN. S
5. Ophthalmology. YANOFF. M; DUKER. J