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Caso Clínico 7

Lactente de 5 meses é atendido na emergência após passar na unidade básica de saúde por apresentar irritabilidade, seguida de letargia e vômitos. Os sintomas já duram mais de uma semana. A mãe nega febre e outros sinais de doença e pede agilidade na liberação da criança, pois tem um compromisso com as amigas.

Foi realizado exame de crânio, que mostra hematoma subdural antigo e hemorragia subdural recente. A janela óssea não evidencia fraturas. 

Hematoma subdural agudo (seta branca)

Hematoma subdural crônico (seta preta)

1. Como complementação essencial do estudo, o que é necessário fazer? 

2. Qual é o achado que pode ser encontrado no fundo de olho e qual sua importância?

3. Qual é o nome dessa síndrome?

4. O que fazer após a suspeita de violência contra criança?

1. Exame de fundo-de-olho

2. Hemorragia retiniana. A presença de hemorragia retiniana em conjunto com hematoma subdural é muito sugestiva de maus-tratos.

3. O abuso físico em crianças pequenas pode levar ao aparecimento de inúmeros achados que caracterizam a síndrome do bebê sacudido (shaken baby)

4. Acionar o conselho tutelar é uma conduta imediata. Internar o paciente em unidade hospitalar para avaliação completa e para retirar do risco de nova lesão 

Resumo:

Maus-tratos físicos é uma condição infeliz, a qual o reconhecimento precoce pode prevenir consequências fatais. Como bebês têm o hábito de chorar, os cuidadores, como babás e até mesmo pais, podem realizar sacudidas violentas na tentativa de amenizar o choro. No entanto, os recém-nascidos são muito vulneráveis a lesões por sacudidas bruscas, pois têm cabeças volumosas e pescoços de musculatura pouco desenvolvida. Assim, ocorrem lesões devido às intensas acelerações e desacelerações rotacionais da cabeça, ao contrário das forças lineares que uma queda pode gerar. Como, na hora, o bebê machucado fica sonolento e para de chorar, o "cuidador" pode achar que houve uma resposta positiva ao ato e, assim, continuar a realizá-lo toda vez que o bebê começar a chorar. 

Na maior parte das vezes, acontece em crianças menores de 2 anos de idade e, raramente, maiores de 3 anos.

 

Os pais ou algum familiar podem levar a criança ao médico por sintomas decorrentes, como  irritabilidade, letargia e vômitos, os quais inicialmente podem ser diagnosticados incorretamente como infecção intestinal, visto que não vai haver história de trauma na anamnese. Convulsões de início recente e dificuldades alimentares são outros sintomas que podem estar presentes. 

No exame, é comum encontrar hemorragias intracranianas, as quais ocorrem pela ruptura das pequenas veias-ponte entre a dura-máter e a aracnoide. Geralmente são hemorragias subdurais, mas podem também ser subaracnoideas. Fraturas de crânio ou equimose de tecidos moles podem também estar associados. Fratura de costelas favorece a suspeita.

As hemorragias retinianas em várias camadas (pré, intra e sub-retiniana) estão presentes em cerca de 80% dos casos. As hemorragias são marcadamente assimétricas em até 20% e unilaterais em cerca de 2% dos casos. As hemorragias podem ser em menor número, exclusivamente intrarretinianas e confinadas ao polo posterior. Em cerca de dois terços dos casos, as hemorragias são demasiadamente numerosas para serem contadas e se estendem para a ora serrata (para a periferia da retina). Pode-se observar uma retinosquise macular (cistos hemorrágicos maculares). A síndrome tem uma aparência de fundo-de-olho muito sugestiva de maus-tratos.

Outras causas de hemorragias retinianas possíveis em crianças:

É difícil que lesões acidentais provoquem hemorragia retiniana significativa, mas o trauma da hora do parto pode gerar hemorragias retinianas que melhoram em 4-6 semanas. Coagulopatias, síndrome de Terson e hipertensão severa também são descritas como causas.

 

Em caso de suspeita de síndrome do bebê sacudido, é importante internar o paciente (principalmente para remover o fator de risco), realizar exames de imagem (tomografia e ressonância), além de realizar trabalho em conjunto com neuro, pediatra e psiquiatra.

É imprescindível acionar o serviço social.

 

O tratamento é de suporte, manejando as complicações sistêmicas, e o prognóstico imprevisível, já que pode ocasionar não só déficits neurológicos significativos, mas também óbito. A perda de visão pode acontecer devido à atrofia óptica ou à lesão cerebral.

Referências (Clique para baixar)

1. Kanski Ophthalmology

2. Lucas J. A. Wendel,, Susannah Q. Longmuir and Nasreen A. Syed, Non-accidental Trauma: An unresponsive infant with bilateral retinal hemorrhages

3. Harrison

4. Nelson, Tratado de Pediatria

 

5. Talbert DG (2017) Pseudo-Shaken-Baby-Syndrome: A Reassessment of Shaken-Baby-Syndrome Features. Anat Physiol 7:260

 

6. I Blumenthal, REVIEW Shaken baby syndrome, Postgrad Med J 2002;78:732–735

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© 2017 Voluntariamente por Pedro Menna Barreto e Prof. Dr. Manuel Vilela.  

Programa de Iniciação à Docência (PID) da UFCSPA

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